sexta-feira, 25 de julho de 2008

Por ele vamos até ao fim do mundo

oil extraction

Segundo notícia de hoje no jornal Público:

Nos gelos do Árctico esconde-se 13 por cento do petróleo ainda não descoberto

por Clara Barata

A maior parte dos recursos situa-se na plataforma continental, e cientistas concentraram-se em reservas que se poderiam explorar com a tecnologia actualmente disponível

Debaixo dos gelos do Árctico há petróleo suficiente para satisfazer a procura mundial durante três anos. E a boa (ou má, consoante as perspectivas) notícia é que a maior parte das reservas de petróleo e de gás natural estão em zonas perto da costa dos países do Círculo Polar Árctico, e não perto do Pólo Norte, em regiões de propriedade definida, onde não deve haver disputas territoriais.
Quem o diz são os Serviços Geológicos dos Estados Unidos, que acabam de divulgar os resultados da muito esperada avaliação das reservas de hidrocarbonetos ainda não exploradas no Árctico. "A plataforma continental do Alasca é o local onde se deve procurar hoje petróleo", disse Donald Gautier.
Vamos aos números: o Árctico pode ter 90 milhões de barris de petróleo ainda não descobertos, e mais de 46 biliões (milhões de milhões) de metros cúbicos de gás natural. Isto representa 13 por cento do total das reservas petrolíferas ainda não descobertas, e 30 por cento das de gás natural, diz a U.S. Geological Survey. Na avaliação foram apenas incluídos "recursos que se julga poderem ser explorados utilizando a tecnologia hoje disponível".
Mas não foram incluídos cálculos sobre os custos que teria explorar petróleo e gás natural nestas zonas. Isso será o objectivo de um próximo estudo, disse Don Gautier, citado pelo jornal canadiano Globe and Mail.
Rússia rica
É nos sete milhões de quilómetros quadrados de zonas marítimas com menos de 500 metros de profundidade, nas plataformas continentais, que se concentram os hidrocarbonetos. Há três áreas que se destacam: dois terços do gás natural não descoberto situar-se-á em duas regiões russa (a Bacia Siberiana Ocidental e a Bacia Oriental do Mar de Barents, parte desta também sob administração norueguesa) e a zona costeira do Alasca (EUA).
Os geólogos, no entanto, tentaram evitar a questão de saber a quem pertenceriam estes recursos. "Pensámos nisto do ponto de vista geológico, e não político", disse Gautier, citado pelo Globe and Mail.
Em princípio, nas regiões identificadas no estudo não haverá grandes disputas territoriais - só lá para o meio do oceano Árctico, mais perto do Pólo Norte propriamente dito, é que as nações do topo do mundo podem disputar o direito a explorar o fundo do mar. O cenário de uma louca corrida ao petróleo e ao gás natural por parte das nações do Árctico (Estados Unidos, Canadá, Rússia, Noruega, Dinamarca), imitando a corrida ao ouro na Califórnia, pode estar mais afastado do que se temia.
Mas o facto de boa parte dos recursos estarem em zonas cuja titularidade é reconhecida pode bem querer dizer que a sua exploração é susceptível de se acelerar muito. Na verdade, já há muitas empresas petrolíferas que se estão a colocar no Árctico, preparando-se para aproveitar o degelo, que tem sido cada vez maior durante o Verão, devido ao aquecimento global.
A Shell, por exemplo, já investiu 2000 milhões de dólares na compra de direitos de perfuração no mar de Chukchi, no Alasca, noticiou o The Wall Street Journal. A BP, por seu lado, pagou 1200 milhões de dólares ao Canadá pelo direito de explorar em três lotes no mar de Beaufort.
E se a tendência de escalada dos preços do petróleo continuar, será cada vez maior o incentivo para o procurar em zonas antes menos atractivas porque implicam grandes gastos.
O impacte ambiental da intensificação da exploração de petróleo e gás natural no Árctico, no entanto, pode ser brutal. Não só para as espécies locais, como o urso polar - mas também para os próprios seres humanos, e não apenas para os povos inuit, que vivem no Círculo Polar Árctico.
Os pólos da Terra são uma espécie de ar condicionado do planeta - entre outros efeitos, a capacidade reflectora do gelo funciona como uma t-shirt branca no Verão que nos ajuda a manter mais frescos. Acelerar o derretimento dos gelos pode ter consequências graves e inesperadas.


Será que vale a pena sacrificar uma das poucas regiões do mundo ainda pouco perturbadas pela actividade humana só para obter mais uns milhões de barris de petróleo?
Esta exploração de petróleo apenas irá atrasar um ou dois anos o efeito inevitável do "oil peak".
Temos é que aprender a viver com menos energia para evitar o colapso da nossa civilização. Não há outra solução.

2 comentários:

Carlos Faria disse...

Não sei se vale a pena sacrificar a zona, temo bem que não... mas sei que se der lucro a curto prazo é isso mesmo que acontecerá

Pedro Veiga disse...

Pois é, infelizmente. Cada vez é maior a pressão sobre os recursos e o planeta em que vivemos.