"Análise BPI 2008-04-28 15:30
Preço do petróleo testa os 120 dólares
Na última semana, o preço do petróleo atingiu um novo máximo, ultrapassando os 119 dólares por barril. Este movimento foi provocado por notícias quanto a possíveis reduções na produção na Nigéria e na Rússia. Ainda que os fundamentos macroeconómicos apontem para o alívio das pressões altistas sobre este preço, o preço dos futuros indicam que este continuará acima dos 110 dólares a médio prazo.Teresa Gil Pinheiro, do Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI
O mercado de futuros sugere que o preço do petróleo fixar-se-á consideravelmente acima dos 100 dólares por barril a médio prazo. De acordo com este mercado, no final deste ano, o crude cotará em tornos dos 113 dólares por barril, dos 108 em 2009 e dos 107 em 2010. Quais os motivos que pressionam em alta as perspectivas sobre a evolução deste preço, num altura em que se antecipa um período mais longo do que o esperado de crescimento económico mundial mais fraco?
O principal aspecto por detrás deste comportamento prende-se com a manutenção de um balanço estreito entre oferta e procura. De acordo com o FMI, em 2008 a procura aumentará 1.8 milhões de barris diários, enquanto que a produção dos países da OPEP deverá estabilizar e a dos países não pertencentes ao cartel aumentará entre 0.8-1 milhões de barris, compensando apenas parcialmente o aumento da procura. A verificação deste cenário, reforçará as preocupações quanto a eventuais notícias que apontem para possíveis cortes na produção petrolífera provocando movimentos altistas sobre a cotação do crude.
As preocupações quanto à evolução da oferta poderão manter-se um factor importante na formação deste preço, tendo em conta o desfasamento entre o período em que são efectuados investimentos no sector e o período em que esses investimentos começam a ser produtivos. O FMI estima que este desfasamento poderá atingir os três anos, e que se alargou nos últimos anos.
Para além disso, também o aumento dos custos de investimento poderão ser um factor a favorecer a estabilização do preço do petróleo em níveis elevados. Segundo aquele organismo, no período entre 2004 e 2007, o investimento no sector petrolífero aumentou, em termos nominais, cerca de 70%. No entanto, em termos reais o comportamento foi diverso. Os motivos por detrás deste facto prendem-se com a escassez de equipamentos e de mão-de-obra qualificada.
Finalmente, o facto de muitos dos países produtores viverem condições políticas conturbadas, tenderá a limitar a apetência das grandes empresas petrolíferas em incrementarem os seus investimentos nessas regiões, funcionado como mais um constrangimento ao aumento da oferta.
Para além destes factores, que, tudo indica, manter-se-ão activos no médio prazo, existem outros que estiveram e, que nos meses mais próximos continuarão a estar, por detrás da formação deste preço. Destes destaca-se a forte depreciação da moeda norte-americana. A desvalorização do dólar torna esta matéria-prima mais barata quando transaccionado noutras moedas, implicando um aumento da procura, enquanto que do lado da oferta se assiste ao aumento do preço de modo a limitar a redução dos lucros, dado que as receitas dos países produtores são denominadas em dólares. De acordo com o FMI, a desvalorização do dólar em 1% está associada a aumentos do preço do petróleo superiores a 1% nos doze meses seguintes, (passados quatro meses o preço do petróleo sobe 0.98%, passados 12 meses aumenta 1.13%, 24 meses depois aumenta 1.27% e 60 meses depois aumenta 1.43%).
Ainda assim, o FMI estima que, em termos médios, o preço do petróleo se situe nos 95 dólares por barril em 2008 e 2009, o que implicaria que, em termos médios, nos próximos 8 meses, caísse para cerca de 92 dólares por barril. Cenário este que nos parece plausível apenas no caso de as economia emergentes virem a sofrer as consequências do arrefecimento dos EUA. Neste caso, as previsões do FMI para a procura de petróleo poderão revelar-se optimistas, pois reflectem essencialmente aumentos por parte dos países asiáticos e do médio oriente, aumentando a oferta líquida global e reduzindo as pressões sobre o crude.
Finalmente, até que ponto a permanência deste preço nos níveis actuais poderá ter um impacto negativo sobre o crescimento económico? Nos últimos anos, a escalada do petróleo revelou ter menos impacto sobre o crescimento do que o registado em crises anteriores. Certamente, o forte aumento da procura por parte de países emergentes e o facto de algumas destas economias subsidiarem este produto, mantendo o preço final inferior ao custo real, permitiu que a procura se mantivesse robusta. Paralelamente, em países desenvolvidos, como é o caso dos pertencentes à UEM, o facto do movimento de subida de preço do crude ter sido acompanhado pela apreciação do euro, terá também limitado os efeitos associados ao aumento deste preço. Com efeito, quando cotado em euros, o petróleo aumentou 47% em 2007 e 11% nos primeiros quatro meses de 2008, enquanto que em dólares os aumentos foram de 65% e 19%, respectivamente. Mas o facto de em termos reais, o custo do crude não ter ultrapassado os níveis máximos atingidos em crises petrolíferas anteriores, tem sido apontado como um motivo importante por detrás da minimização da recente escalada deste preço no crescimento. Todavia, actualmente esta situação alterou-se, verificando-se que nos primeiros meses de 2008, o preço médio do crude ultrapassou os máximos observados anteriores, abrindo novamente a questão quanto a um possível impacto negativo deste preço no crescimento da economia mundial. Até agora, em termos médios, a cotação do Brent é de 99,4 dólares por barril, superior ao máximo anterior de 95 dólares atingido em 1980 (petróleo avaliado a preços constantes de 2007)."
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