quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Grandes preocupações económicas

Notícia no Jornal “Público”

“Conselho de governadores reúne-se hoje

BCE forçado a solução de meio termo com as taxas de juro

07.02.2008 - 09h09

Por Sérgio Aníbal

A enfrentar um conjunto de indicadores económicos que apontam, ao mesmo tempo, para um abrandamento da actividade económica e para um agravamento das pressões inflacionistas, o Banco Central Europeu (BCE) deverá manter hoje as taxas de juro na zona euro inalteradas, recusando seguir o caminho iniciado nos últimos meses pela Reserva Federal norte-americana.

Esta é a opinião unânime dos economistas dos principais departamentos de research dos bancos europeus. A totalidade dos 30 economistas consultados pela France Press e os 55 questionados pela agência Bloomberg são da opinião que na reunião do conselho de governadores do BCE marcada para hoje, a principal taxa de juro de refinanciamento se continuará a situar em quatro por cento.

Esta é a solução de meio termo até agora encontrada por Jean-Claude Trichet e os seus pares para enfrentar uma situação em que o abrandamento do crescimento económico pede uma descida de taxas, enquanto a persistência da inflação sugere um ainda maior endurecimento da política monetária.

Assim, como qualquer uma das decisões - subir ou descer taxas - tem fortes vantagens e inconvenientes, o preferível tem sido, de acordo com os responsáveis do BCE, não fazer nada. E a verdade é que os indicadores económicos divulgados durante os últimos dias não contribuíram para tornar a situação mais clara.

Na terça-feira, o Eurostat revelou que as vendas no comércio a retalho caíram dois por cento em Dezembro, quando comparadas com o mesmo mês do ano anterior, o pior resultado desde 1995. E, de acordo com o Royal Bank of Scotland, o índice que dá conta da evolução do sector dos serviços na Europa registou o valor mais baixo dos últimos quatro anos. Acentuam-se assim os sinais de que a quebra de expectativas dos consumidores e das empresas já está a conduzir a uma travagem da actividade económica, um cenário que ainda é mais grave tendo em conta que as exportações podem vir a ser afectadas por um cenário de recessão nos EUA.

Por outro lado, o menor ritmo de crescimento não está, para já, a conduzir a um abrandamento dos preços. Na passada quinta-feira, o Eurostat anunciou que a taxa de inflação em Janeiro se deverá situar em 3,2 por cento, um novo recorde que fica muito acima da barreira de dois por cento que o BCE tem de tentar impor.

Governos ajudam BCE

Perante este difícil cenário económico, o BCE tem dado a entender que não baixa taxas enquanto não estiver garantido que as pressões inflacionistas vão começar a desanuviar-se. E, para que isso aconteça, defende Trichet, é necessária moderação salarial.

Os governos europeus parecem dispostos a ajudar. De acordo com fontes citadas pela agência Reuters, na próxima reunião do Eurogrupo, uma maioria dos ministros das Finanças europeus vai deixar claro que a sua principal preocupação é o combate à inflação. Desta forma, o BCE pode sentir-se mais "confortado" e começar a pensar em reduzir as taxas de juro.

Há, no entanto, na Europa quem comece a ficar cada vez mais impaciente pelo facto de, nem a nível orçamental nem monetário, se estar a introduzir um estímulo à actividade económica, à semelhança do que já está a ser feito nos EUA. Em Espanha, onde a confiança dos consumidores está a cair e o desemprego a regressar, nota-se já algum nervosismo nos responsáveis políticos. O presidente do executivo, José Luis Rodriguez Zapatero, disse ontem estar à espera de uma redução de taxas de juro por parte do BCE, embora salientando "não querer dar conselhos". “

Esta notícia dá a entender que a inflação na zona euro só poderá ser combatida pela “moderação dos aumentos salariais”. Não será a elevada subida dos preços da energia e das matérias-primas a grande responsável pelo aumento da inflação? O caso do pão é um exemplo disso. Em pouco tempo subiu mais de 10 % porque o preço dos cereais aumentou muito.

Outra notícia no Jornal “Público”


“Quebra das reservas do Canadá injectou nervosismo na bolsa de Chicago

Produtos alimentares vão ficar mais caros com novo recorde do preço do trigo

07.02.2008 - 08h46

Por José Manuel Rocha

O preço dos produtos alimentares em cuja composição entra o trigo vai continuar a aumentar nos tempos mais próximos. Ontem, a cotação deste cereal na mais importante bolsa de matérias-primas (Chicago, EUA) atingiu novo recorde.

Chegou aos 10,33 dólares por alqueire (cerca de 14 quilos), batendo assim o anterior máximo, registado em meados de Dezembro, nos 10,08 dólares.

A razão próxima para esta escalada do preço do trigo, neste caso reportado aos contratos de futuros para venda em Março, é a quebra substancial dos stocks do cereal no Canadá, que é o segundo maior exportador mundial, logo a seguir aos Estados Unidos da América.

De acordo com a agência Reuters, as reservas de trigo no Canadá desceram para 15 milhões de toneladas, em Dezembro de 2007, contra os 21,6 milhões de toneladas que constavam dos registos um ano antes. As razões apontadas para esta quebra são as condições climatéricas, que ao longo do ano passado foram pouco favoráveis ao desenvolvimento da cultura agrícola nas searas canadianas.

O preço do trigo na bolsa mercantil de Chicago duplicou no espaço de seis meses. Em Julho de 2007, estava pouco acima dos cinco dólares. Ontem, a cotação subiu 30 cêntimos, valor máximo admitido para uma sessão apenas. Este aumento irá ter consequências no segmento do consumo, uma vez que o trigo é muito utilizado na elaboração de diversos produtos alimentares, nomeadamente os da indústria de panificação.

O mesmo acontece com o milho, que ontem registou, também, uma valorização de 1,3 por cento na plataforma de negociação de Chicago. No caso deste cereal, as razões para o aumento da cotação têm a ver com uma pressão muito mais forte sobre a procura. O aumento do consumo em países como a China e a Índia e o interesse dos produtores de biocombustíveis contribui para a escassez do cereal e, consequentemente, para o aumento do seu valor no mercado internacional.

O aumento do preço do milho tem como resultado directo um incremento do valor dos alimentos em cuja composição entra. Mas acaba também por influenciar o preço do leite e da carne, especialmente de bovino, que se alimenta de forragem de milho e de rações onde entra este cereal, e do leite. Em Portugal, os últimos dados apontam para um aumento de cerca de 15 por cento no preço do leite nos últimos meses.

Estes dados poderão significar, ainda, um novo argumento para o BCE recusar descidas das taxas de juro, uma vez que esta onda de aumentos constitui, já de si, uma forte pressão sobre a inflação - que no caso da Europa está bem acima do patamar de 2 por cento definido pela autoridade monetária.”


Fala-se aqui na produção de biocombustíveis a partir dos cereais. Esta actividade faz aumentar a procura do produto e logo os preços disparam. Será isto já um efeito co-lateral do fenómeno “peak oil”?

A par disto há sinais preocupantes que mostram tendência para o aumento do desemprego. Pouco crescimento ou estagnação a par do aumento do desemprego é sinónimo de estagflação.

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