O ex-vice-presidente dos Estados Unidos tem andado a convencer os nossos governantes acerca dos perigos do aquecimento global. O texto seguinte extraído de http://resistir.info/climatologia/verdade_incomoda.html mostra bem aquilo que o Sr. Algore não mostra (o original pode ser lido em: http://www.crisisenergetica.org/article.php?story=20070205190147543):
"A verdade incómoda do profeta Al Gore & a incomodidade da verdade
por Alfonso del Val [*]
Recordação de algumas atrocidades do duo Clinton-Gore
Apresenta-se nas salas de cinema do mundo inteiro um produto audiovisual denominado "Uma verdade incómoda". Ele faz parte de uma extensa campanha propagandística, com base na teoria no aquecimento global do planeta, do senhor Al Gore, ex–vice-presidente dos Estados Unidos da América.
Com o seu computador Macintosh e graças à Internet e à informação obtida pela sua privilegiada situação política, Gore conseguiu elaborar um livro com o mesmo título, com publicação próxima em Espanha. Com mais de 700 mil cópias vendidas só na edição inglesa, às quais há que juntar as que foram vendidas em 23 edições em outros tantos idiomas, o livro de Gore, juntamente com o filme e o DVD (um milhão de cópias vendidas só nos Estados Unidos), conseguiu formar um verdadeiro corpo diplomático de carácter mediático que lhe abre as portas dos grandes salões e fóruns mundiais.
Al Gore foi recebido a 6/Fevereiro/2007 em Madrid pelo presidente do governo espanhol no Palácio da Moncloa [e no dia 8 em Lisboa pelo primeiro-ministro português]. Vários ministros e outras personalidades acorreram à sua primeira conferência em Espanha: "O maior problema actual da humanidade e a nossa contribuição para travá-lo". Conferência que se anuncia nos media com o subtítulo: "debate aberto com Al Gore". Esta conferência permitiu a presença daqueles que pagaram 470 € + IVA, quantia que não dava direito a tirar fotografias nem a gravação audiovisual, nem tão pouco a formular qualquer pergunta ao senhor Gore, proibição que também afectou os jornalistas. Apesar da oferta de lugares gratuitos às organizações ecologistas, algumas destas receberam resposta negativa à sua presença se não desembolsassem a quantia mencionada.
Al Gore apresenta-se no filme como um enviado da Natureza, de origem norte-americana, mas que também se dirige aos norte-americanos (o produto há-de vender-se no mundo inteiro). O novo profeta, seguindo a metodologia bíblica das sete pragas do Egipto, anuncia-nos a oitava praga do aquecimento global que arrasaria de novo o planeta. Com um discurso americano para norte-americanos, Gore maneja habilmente a informação que lhe parece oportuna e nesta linha elabora as conclusões sobre o terrível futuro que se nos avizinha e as soluções que já conhecemos.
Assim, os dados que oferece sobre a situação actual do aquecimento global do planeta provém dos "cientistas" em que ele confia e que dizem a verdade, e não dos maus que a escondem por dinheiro. Al Gore de modo algum cita os cientistas (cerca de 2500) que desde 2001 e com mandato da ONU trabalham no Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC na sigla inglesa) que, certamente, oferecem uma informação mais rigorosa e menos catastrofista que a expressa pelo ex–vice-presidente. Al Gore só nos fala do CO 2 (anidrido carbónico ou dióxido de carbono) como o único gás com efeito de estufa, ignorando deliberadamente os outros gases, como o metano, responsáveis por um efeito muito maior ainda que estejam presentes em menor quantidade. Este esquecimento terá algo a ver com a política do presidente Bush de desprestígio da ONU e da recusa de ratificação do Protocolo de Quioto?
O senhor Gore parece que gosta mais do simples CO 2 do que das dioxinas, dos furanos, dos PCB e outras de substâncias complexas, de reciclagem impossível na natureza – ao contrário do CO 2 (que poderia ser convertido em biomassa, se não desflorestassem o planeta) –, sobre os quais existe um acordo absoluto quanto à sua extrema periculosidade. Por esta razão, identificadas as doze substâncias mais letais existentes na atmosfera, nos solos, nos nossos corpos e na maioria dos seres vivos, que hão-de manter-se durante gerações, se assinou em 2001 e se ratificou em 2004 a Convenção de Estocolmo. Mas nos processos de incineração, nos quais se geram a maioria destes compostos, para além do CO 2 em que só se fixa o discurso de Al Gore, continuam e pouco ou nada sabemos da sua evolução, se exceptuarmos a informação dos investigadores médicos, sobre a sua maior presença nos tecidos e órgãos humanos.
O CIE é o responsável pelos campos de internamento dos imigrantes que conseguem chegar vivos à Espanha. No seu filme, podemos ver como vai sofrer a Natureza, a obra de Deus, com maior precisão e crueldade do que os seus próprios habitantes. Ao referir-se aos efeitos das alterações climáticas em África mostra-nos um pobre mapa com o lago Chade sem imagem alguma do sofrimento dos seus habitantes. A única imagem que oferece para nos mostrar a sua angústia e o seu sofrimento que o leva até à morte é a de um urso polar que nada, durante 100 km, à procura de gelo e que morre. Talvez a visita a Espanha lhe pudesse servir para que alguns ministros e outras autoridades lhe sugerissem que mudasse o urso por africanos que, em muito maior número, morrem ao tentar o atravessamento do estreito de Gibraltar à procura de uma vida melhor. Saberá ele, ou os seus assessores audiovisuais, que os africanos não são brancos como o urso?
Sem dúvida, na película, não podemos ver as causas que provocaram a ruína económica e social desse gigantesco continente que contém uma grande parte dos recursos naturais do planeta e que, talvez, por isso se encontre na actual situação de ruína. Simplesmente, ao mostrar-nos o lago de Chade seco (com uma seta que diz Darfur à direita e Níger à esquerda), indica-nos que o ex–vice-presidente não lhe interessa os outros problemas que existem por lá. E, por isso, não nos diz como solucioná-los.
Tão pouco nos diz o senhor Gore qual é a causa verdadeira da situação no mundo sobre o esgotamento dos recursos, a degradação ambiental e a actual desigualdade económica e social. Apesar de que em 1972 já se tenha feito um estudo exaustivo ("Os limites do crescimento", estudo apresentado pelo Clube de Roma, sobre a avaliação da situação humanitária, feito por Donella H. Meadows, Denis L. Meadows, Jorgen Randers et William Berens III), ao qual se seguiram outros estudos que deram ocasião à declaração da Cimeira da Terra (Rio de Janeiro, 1992) sobre a necessidade da conservação dos recursos; o senhor Gore não nos fala nas soluções para a redução do consumo de alguns recursos naturais, energéticos ou outros. Só nos fala de energia e CO 2 . Não se preocupa com o sofrimento actual das pessoas devido à destruição dos seus territórios, às migrações e mortes como consequência da depredação dos recursos, mas só se mostra compungido ao pensar na sua quinta na qual passou a sua idílica infância. Preocupa-o não saber em que condição ficará com o dito aquecimento global. O consumismo é intocável, como alma mater e motor da nossa civilização actual que transforma recursos naturais em resíduos na proporção de 93%. Só 7% dos recursos naturais que utilizamos (minerais energéticos e não energéticos, alimentos, etc) são transformados em bens úteis para o nosso exagerado consumo. Al Gore indica-nos que a solução está na mudança de automóvel por outro sem nos dizer se na fabricação e utilização deste novo automóvel se consome mais ou menos recursos e se a eficiência transformadora (maior aproveitamento dos recursos) será maior ou menor. O mesmo acontece com a energia, mostrando-nos painéis fotovoltaicos (transformam a luz solar em corrente eléctrica) que, hoje por hoje, necessitam no seu processo de projecto, fabricação e montagem, mais energia do que aquela que vão produzir na sua vida útil. Diz-nos o senhor Gore que se exija das empresas eléctricas o fornecimento de energia limpa e verde. A que novas formas de energia se refere o senhor Gore quando nos diz que se pode atingir a emissão zero de CO 2 ? Alcançar este objectivo no uso intensivo da energia num país como os EUA, e no mundo, significa não queimar matéria orgânica (petróleo, gás natural, carvão, biomassa, etc). Só a energia nuclear de fusão, o sonho do reactor reprodutor (ITER), pode fornecer garantidamente as gigantescas procuras actuais, e maiores ainda no futuro, que a nossa civilização exige no consumo-destruição-fabricação-consumo. Só uma fonte inesgotável de energia eléctrica poderia garantir a disponibilidade do hidrogénio para substituir os combustíveis fósseis nos processos de combustão. Coincidências entre Al Gore e Jeremy Rifkin.
QUAL O AUTOMÓVEL DE JESUS CRISTO?
Uma vez mais, Al Gore recorda-nos que é norte-americano e, no fundamental, fala para os norte-americanos. Só se refere ao resto do mundo nas partes menos importantes do seu discurso. Diz-nos que devemos reduzir a dependência do petróleo estrangeiro, não a mobilidade compulsiva. Esquece-se que se deslocam, constantemente, cada vez mais, mais depressa e mais longe materiais, produtos e pessoas. Diz-nos que devemos reduzir a extracção do petróleo do nosso país. A que país se refere? A maioria não tem petróleo. Esta meta de redução da dependência, com a ideia da segurança nacional, traduz-se num verdadeiro dilema pois torna-se necessária a importação do petróleo, tanto para os militaristas (guerras territoriais para controlar o petróleo) como para os falcões do fisco (repercussão das importações no valor do dólar) e para os sectores económicos do neoconservadorismo que apoiam o presidente Bush. Também parece que pretende satisfazer os desejos das prédicas de poderosas seitas evangelistas que falam na necessidade de o homem conservar a Terra que Deus nos deu. Ainda que Al Gore não responda à pergunta chave para estas seitas: Que automóvel conduziria Jesus Cristo nos dias de hoje?
Al Gore, definitivamente, pretende assustar-nos (o medo é o instrumento mais subtil e útil do poder) ao responsabilizar-nos a todos, mas sem mostrar-nos um gráfico ou uma tabela que indique a responsabilidade que corresponderia a cada um de nós (pessoas, grupos económicos e sociais, países). E mais, no fundo, ele tão pouco sabe porque nos acusa. Assim, lamenta-se como alguém que em nome de Deus tenha passado por aqui, ao referir-se aos desastres produzidos pelo furacão Katrina.
Al Gore não exige responsabilidades aos conhecidos causadores da situação actual e futura, cujo enriquecimento material é ainda maior do que o aumento do desastre ambiental que produziram (só a Exxon-Mobil obteve, em 2006, 30,36 mil milhões de dólares de lucros, o maior jamais alcançado por uma empresa na história do capitalismo), mas exige que aceitemos esta situação como o pecado de toda a humanidade e que trabalhemos todos juntos no futuro para nos salvarmos do perigo que está para acontecer.
Tão pouco nos indica quanto CO 2 se emitiu para a atmosfera como consequência da fabricação, ensaios, transporte e utilização do desproporcionado exército do seu país que não representa a humanidade no seu conjunto. Nem o do emitido nas sucessivas guerras para o controlo do petróleo (bombardeamentos, explosões de poços de petróleo e refinarias, roturas de oleodutos e gasodutos).
Para emitir este discurso simples e sustentado já existe o republicano Schwarzenegger, talvez com maior experiência cinematográfica. Mas, no seu estado da Califórnia, supostamente avançado do ponto de vista ambiental, ainda ninguém consegue comprar o tal automóvel capaz de ser conduzido por Jesus Cristo.
Como conclusão, a propaganda de Al Gore não oferece nada de novo e rigoroso (melhor escrito e estudado, ainda que não apresentado com tais parangonas, existe no primeiro relatório do Clube de Roma de 1972; mais rigoroso e aparentemente científico encontra-se na informação fornecida pelo IPCC, órgão da ONU, em 2001). Segue a Bíblia na sua apresentação simplista da análise das causas e da formulação das medidas, recomendando a reza aos que sejam seus crentes. Para cobrar os benefícios do desastre e os que se derivam da sua divulgação, incluído o próprio, existem nomes e apelidos. Para pagar os danos ambientais devemos estar todos juntos e irmanados e ao que nos toca mais concretamente devemos perguntar-lhe como a Deus: "porquê nós e aqui?" Al Gore desaproveita nesta magnífica, talvez irrepetível, ocasião, a oportunidade de nos oferecer o seu currículo pessoal no que respeita aos trabalhos, aos sacrifícios e aos resultados obtidos durante a sua carreira política incluindo o seu período como vice–presidente dos EUA. Talvez assim tivesse ganho as eleições e fosse hoje presidente em vez de andar a vender livros e DVDs, ainda que então talvez não fosse iluminado por Deus para andar a fazer prédicas sobre o desenvolvimento sustentável, algo que, segundo manifesta o próprio, só aconteceu depois de ter perdido as eleições presidenciais. Eis agora o que o novo profeta ecologista manifesta: "vi claramente a missão que me estava destinada".
Vejam, leiam e julguem vós, sobretudo os privilegiados que puderam ouvir e ver o profeta, por 470 € + IVA, se não se assiste a um fenómeno global, ecológico, económico e religioso, que atrai por igual as crianças e os mais crescidos, orientais e ocidentais, plebeus (como eu que só vi o DVD que nos emprestou um amigo) e aristocratas (que lhe pagaram os 200 mil dólares por conferência e têm a possibilidade de vê-lo ao vivo e inclusive falar-lhe). Para terminar, umas últimas perguntas:
– O que terão aprendido, quer o presidente do Governo quer os ministros e outras autoridades, com as suas conferências?
– Pagaram as suas entradas?
– Se sim, fizeram-no com o dinheiro dos nossos impostos?
– Pagaram-lhe pelos seus méritos?
– Ou por outros "méritos" que não conhecemos?
– Ser-lhe-á dado o próximo prémio Príncipe das Astúrias de 2007?
– O senhor Gore alguma vez terá a oportunidade de ler este artigo e outros semelhantes?
– Dir-nos-á, finalmente, qual é o automóvel que Jesus Cristo conduziria hoje? Em Madrid não o podemos averiguar."
1- Pedro Prieto. Editor de Crisis energética. Al Gore en España. ¿El huevo del calentamiento global o la gallina del agotamiento fósil? Disponible en Crisis energética: http://www.crisisenergetica.org/article.php?story=20070205190147543
2- Una verdad antigua. Marcela Çaldumbide. Advogado.
3- Quando Al Gore exercia seu papel de vendedor de drogas ao serviço das multinacionais.
De facto o automóvel em que se deslocou o Sr. Al Gore durante a visita a Portugal era um híbrido. Todavia, devido à sua elevada cilindrada poluía mais do que um qualquer automóvel ligeiro utilitário de idade recente. Anda por aí muita hipocrisia à solta...
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