No jornal Público de hoje:
Registos dos primeiros quatro meses deste ano
Interrupções voluntárias da gravidez estão a aumentar em Portugal
15.06.2009 - 08h41 Sandra Moutinho, Lusa
O número de Interrupções Voluntárias da Gravidez (IVG) aumentou em Portugal desde o início do ano, um crescimento que pode estar associado à crise económica e aos receios do seu impacto no aumento da família, segundo alguns responsáveis clínicos.
Só no Hospital Amadora-Sintra, que serve 700 mil habitantes, dos quais uma significativa parte tem dificuldades sócio-económicas, os abortos aumentaram cerca de 23 por cento, enquanto os nascimentos estão a diminuir.
O presidente do conselho de administração do Hospital Dr. Fernando Fonseca (conhecido como Amadora Sintra), Artur Vaz, afirma que nos primeiros quatro meses deste ano foram realizadas 663 IVG através desta instituição. As IVG que são solicitadas ao Amadora-Sintra são encaminhadas para clínicas privadas, embora pagas pelo hospital, uma vez que os médicos desta unidade de saúde são quase todos objectores de consciência.
Segundo Artur Vaz, em relação ao mesmo período do ano passado registou-se um aumento de 23 por cento de IVG, ao mesmo tempo que se regista uma diminuição de partos, que se situa actualmente nos mil nascimentos.
O administrador não hesita em atribuir este aumento à crise e aos “receios de assumir uma gravidez não planeada” perante “cenários de instabilidade económica”.
A mesma interpretação é feita pelo director executivo da Associação para o Planeamento da Família (APF), Duarte Vilar, para quem “há mais IVG em altura de crise”. Em momentos de crise, explicou, “é menor a margem de aceitação de uma gravidez inesperada”. “Tem de se entender que as questões da maternidade e paternidade e a possibilidade de um novo filho são questões muito delicadas para a maior parte dos casais.”
Em épocas de crise, adiantou, “essa exigência é agravada com factores como o desemprego, baixa do rendimento familiar, instabilidade profissional e precariedade laborar”.
Duarte Vilar ressalva, contudo, que este aumento da IVG não significa que as pessoas estejam a substituir a contracepção pelo aborto, mas antes que está a existir um controlo mais forte da natalidade.
Clínica dos Arcos regista aumento de 24 por cento de IVG
A corroborar este aumento está a Clínica dos Arcos, onde são realizados milhares de IVG encaminhadas pelos hospitais públicos, como o Amadora-Sintra. A directora desta instituição revelou que, entre Janeiro e Maio deste ano, foram realizadas 2647 IVG, das quais 1974 encaminhados por hospitais públicos.
Em relação a 2008 a clínica registou um aumento de 24 por cento de abortos.
Também na Maternidade Alfredo da Costa (MAC), a maior do país, as IVG têm aumentado, embora a um ritmo menos acelerado. O director da instituição, Jorge Branco, afirmou que nos primeiros quatro meses deste ano a maternidade efectuou 615 IVG, mais 35 do que no período homólogo de 2008.
Ao nível dos partos, esta instituição registou uma diminuição de 170 nascimentos, embora Jorge Branco justifique a descida com a existência de novos protocolos que envolvem subsistemas de saúde e que levam as grávidas a optar por outras instituições.
A Lusa tentou saber junto da Direcção-Geral de Saúde (DGS) os números de IVG realizadas a nível nacional, mas este organismo do Ministério da Saúde remeteu para finais de Julho um balanço.
Antes de se poder fazer a IVG sem ser de modo clandestino nada se sabia acerca do número de interrupções feitas. Agora, com esta lei, começa a ser possível saber o que se passa acerca deste problema de saúde pública. Muito provavelmente este aumento do número de abortos corresponderá justamente à diminuição do número de abortos clandestinos feitos no "vão de escada". A notícia, tal como está escrita pode levar a falsas interpretações como se depreende por alguns comentários feitos na página "online" do Público. Não é por ter uma lei restritiva que o número de abortos diminuirá, não é com a punição que se diminui este problema de saúde pública, antes pelo contrário. A nova lei só veio corrigir um erro legislativo e permitir que diminua o mal do aborto clandestino. Isto nada tem que ver com a moral e os costumes de uma sociedade. É sim um problema de saúde pública e nada mais! Esta notícia, tal como está escrita, revela um trabalho jornalístico sem um suporte de investigação adequado que relacione os números cruamente apresentados. É um jornalismo fácil, imediato e sem suporte que pode dar origem a interpretações erradas de um problema tão grave como é o da IVG. Extrapolações sim, mas só com um trabalho de investigação que as suporte, por favor!
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