terça-feira, 20 de maio de 2014

UMA SEMANA DE CHUVA, por Miguel Esteves Cardoso

Voltou a chover. Vai continuar a chover. Não se via tal escândalo desde o ano passado, por esta altura exacta do mês de Maio.
A única diferença foi que, no ano passado, choveu no Domingo à noite, molhando a Procissão das Velas. Este ano não choveu e a procissão seguiu com todo o esplendor.
Este ano a chuva esperou pela Nossa Senhora de Fátima. O ano passado uma vizinha nossa teve de ralhar com a Banda: "Então não tocam ao menos 'A Miraculosa' para a Nossa Senhora não ir desgostosa para a igreja?"
Mas a Banda da Sociedade Recreativa e Musical de Almoçageme respondeu com nobreza ao apelo e tocou A Miraculosa como se estivesse uma tarde de sol.
Tal como o ano passado, depois de um fim-de-semana de praia, anda toda a gente espantada, ainda de calções e havaianas, a perguntar-me se eu já sei que vem aí uma semana de chuva.
Também costuma ser esta a semana em que alguém não muito longe de mim começa a dizer que este ano não vai haver cerejas por causa desta chuva, não obstante haver sempre cerejas todos os anos.
Na segunda metade de Maio declara-se, no primeiro dia de calor que o calor "chegou". Este "chegou" é dito com tal veemência que dispensa acrescentar o "para sempre".
Quando o calor que chegou se vai embora toda a gente se sente traída. Não é assim que o calor se deveria comportar. Os passarinhos, as borboletas e as rosas reagem com naturalidade, para não dizer indiferença. E continuam. Nós não. Fomos interrompidos e ficamos fulos.

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