quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O "peak oil" já chegou à imprensa portuguesa

Segundo o jornal Público de hoje:

"Planeta tem menos petróleo do que as estatísticas oficiais dizem
10.11.2009 - 20h02
Por Lurdes Ferreira
O planeta tem muito menos reservas de petróleo do que as previsões oficiais indicam. A afirmação não pertence a nenhum ‘petrocéptico’, mas a um elemento de topo ligado à Agência Internacional de Energia, citado sob anonimato na edição de hoje do diário britânico The Guardian.

Segundo esta fonte, a entidade tem afastado deliberadamente a ameaça de uma escassez de petróleo por receio de uma vaga de pânico consumista, uma acusação que acentua a polémica em torno do rigor das estatísticas oficiais que os países usam como referência para as suas políticas.

O jornal cita o quadro da AIE, de acordo com o qual os EUA têm usado a sua influência junto da organização para que esta estime em baixa a taxa de declínio dos campos petrolíferos em actividade, ao mesmo tempo que estima em alta as possibilidades de serem encontradas novas reservas petrolíferas. A suspeita já não é nova, muitos dos especialistas ligados ao movimento do chamado “pico do petróleo” alertam há anos para esse risco, defendendo que a produção mundial já ultrapassou o seu pico e se encontra já em declínio. A questão torna-se agora ainda mais séria quando se reconhece que os números reais não saem a público por receio de uma grave crise nos mercados financeiros mundiais e na fragilização dos interesses americanos no acesso aos recursos petrolíferos.

No centro das dúvidas, estão as previsões da AIE, segundo as quais a produção mundial de petróleo pode ser elevada de 83 milhões de barris diários para 105 milhões – projecção que os críticos consideram carecer de evidência firme, uma matéria que, para países como o Reino Unido é especialmente grave, sobretudo depois de se ter tornado importador de petróleo, com o fim das suas reservas no Mar do Norte, desde 2005.

A fonte citada pelo Guardian, que pediu anonimato para evitar represálias da indústria, usa os números da própria AIE para explicar como o problema tem sido gerido. “Em 2005, a AIE previa que a produção de petróleo podia subir até 120 milhões de barris diários em 2030. Desde então, tem baixado gradualmente essa previsão para 116 milhões, depois para 105 milhões no ano passado”. E acrescenta: “o número dos 120 milhões de barris nunca fez sentido e mesmo os valores actuais são demasiado elevados para serem justificados e a AIE sabe isso”.

Admitir valores mais baixos, embora alegadamente mais próximos da realidade, poderão criar uma situação de ruptura no mercado petrolífero e o “receio de que o pânico se espalhasse pelos mercados financeiros, sendo que os americanos temem o fim da supremacia do petróleo, porque isso pode ameaçar o seu poder de acesso aos recursos petrolíferos”, adiantou a mesma fonte.

Outro elemento que já foi quadro de topo da AIE reconhece também que conheceu uma regra interna segundo a qual era “imperativo não enfurecer os americanos”, ao mesmo tempo que se aceitava que não havia assim tanto petróleo no mundo como se fazia crer.

Para o Reino Unido, estas suspeitas podem dar uma nova importância à conferência de Copenhaga, que discutirá o pós-Quioto dentro de menos de um mês, e as medidas para uma economia mundial com menores emissões de gases com efeito de estufa.

Especialistas da indústria petrolífera como Matt Simmons, recentemente entrevistado pelo PÚBLICO, ou Colin Campbell, co-fundador do movimento do pico do petróleo reforçam a necessidade de prudência a olhar para os números oficiais. O primeiro há vários anos que diz que as estimativas de reservas estão sobrevalorizadas, a começar pelas da Arábia Saudita. O Segundo até admire que se os números verdadeiros viessem a público, causariam pânico nos mercados financeiros “ e no final não aproveitaria a ninguém”."

Este artigo baseia-se numa informação divulgada pelo diário britânico "The Guardian" e inclui um pequena (mas importante) incorrecção:
"No centro das dúvidas, estão as previsões da AIE, segundo as quais a produção mundial de petróleo pode ser elevada de 83 milhões de barris diários para 105 milhões – projecção que os críticos consideram carecer de evidência firme, uma matéria que, para países como o Reino Unido é especialmente grave, sobretudo depois de se ter tornado importador de petróleo, com o fim das suas reservas no Mar do Norte, desde 2005."
Não, as reservas de petróleo do Mar do Norte não acabaram, estão é em declínio acentuado, o que é bem diferente!
Este artigo, na forma como está escrito provoca muita confusão, o que é natural porque o conceito de "pico de extracção de petróleo" é um tanto abstracto e resulta de estudos estatísticos e de probabilidade. A meu ver, o "pico do petróleo" ou o "oil peak" é apenas um sinal de que temos de mudar de hábitos o quanto antes, a fim de evitar um novo período de depressão mundial. A este propósito cito parte de um texto de um editorial do Público, da autoria de José Manuel Fernandes: "Se a crise não nos chegasse pelo lado da "bolha do crédito Imobiliário", chegar-nos-ia - como já estava a chegar- pelo lado da escassez dos recursos e da nossa recusa em mudar de hábitos ou renunciar a certos consumos (o que sucedeu com o preço do petróleo este Verão pode ter sido apenas uma pequena amostra do que nos espera quando regressarmos, se regressarmos, a uma nova era de crescimento)."

Ora, nem mais! Muitos países já estão de novo num bom ritmo de crescimento e na frente vai a China cujo consumo de petróleo e de outros recursos está a aumentar a um ritmo muito elevado.
O limite geológico do planeta existe e nós, como seres dominantes na Terra, temos o dever de conter a nossa fúria consumista, para bem de todos!

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