quarta-feira, 30 de setembro de 2009
Ai que o nosso Portugal ainda vai ao fundo!
As comadres começaram a ralhar. Falta agora descobrir aonde está a verdade no meio deste pântano.
Editorial do Jornal Público:
"Um grave conflito que ainda não saiu do adro"
30.09.2009 - 08h06, por José Manuel Fernandes
Primeiro que tudo: recomendo a leitura e a releitura da comunicação de ontem do Presidente da República. Até porque este está longe de esclarecer tudo para além de dois factos essenciais: Cavaco Silva considera que o partido do Governo tentou puxá-lo "para a luta político-partidária" e procurou "desviar as atenções do debate eleitoral das questões que realmente preocupavam os cidadãos".
Mais: o Chefe de Estado considera que isso começou a acontecer a meio de Agosto, classificando as declarações de alguns dirigentes do PS como "um tipo de ultimato dirigido ao Presidente da República".
Para quem não se recordar, foi por causa dessas declarações de dirigentes socialistas que o PÚBLICO contactou os serviços da Presidência da República, onde uma fonte oficial se interrogou sobre se os assessores de Cavaco Silva não estariam a ser vigiados. O Presidente não desautorizou ontem os membros da Casa Civil que falaram ao PÚBLICO: disse que só ele fala em seu nome - ele os chefes da Casa Civil e da Casa Militar; e acrescentou que não constituía "crime" formular interrogações sobre as "declarações políticas de outrem", nisso incluindo mesmo "as interrogações atribuídas a um membro da minha Casa Civil" "sobre como é que aqueles políticos sabiam dos passos dados por membros da Casa Civil da Presidência da República".
Mesmo sem assumir os termos exactos em que as interrogações chegaram à imprensa (e não foi só pelo PÚBLICO), o Presidente nunca as desautorizou - e isso deixou por explicar ontem. Contudo, disse que "não cede a pressões nem se deixa condicionar, seja por quem for". Uma frase importante que me obriga a recordar o que escrevi no dia 19 de Agosto: "O terreno está movediço e o Presidente quer preservar a sua autoridade e autonomia, pois sabe que há sombras de tempestade no horizonte. Só isso pode explicar que tivesse deixado que se soubesse que receia que nem todos os jogadores estejam a jogar com cartas limpas."
Ontem ficou claro que Cavaco Silva receava que o partido do Governo não estivesse a fazer jogo limpo. Tão cristalinamente claro que é difícil imaginar em que condições o Presidente da República e o primeiro-ministro vão conseguir cooperar num momento difícil para o país.
Ontem também ficou claro que o Presidente da República não geriu bem este caso. Mas lá iremos.
É certo que o Presidente da República nunca disse, de viva voz, que temia estar a ser vigiado. Mas disse que, a seguir à campanha eleitoral para as legislativas, falaria "sobre questões de segurança". Para quem não se recorde, essa declaração foi feita no dia em que o Diário de Notícias cometeu duas faltas deontológicas gravíssimas: primeiro, violou correspondência privada trocada entre profissionais do PÚBLICO; segundo, fê-lo para expor uma fonte deste jornal.
Cavaco Silva estranhou esse comportamento - "porque é que é publicado agora, a uma semana do acto eleitoral, quando já passaram 17 meses?" - e viu em tal decisão um novo sinal do esforço para "colar o Presidente ao PSD e desviar as atenções". Porque ligou "imediatamente a publicação do e-mail aos objectivos visados pelas declarações produzidas em meados de Agosto". As tais declarações de dirigentes do partido do Governo...
E a seguir acrescentou que essa publicação desse e-mail privado lhe suscitou a seguinte dúvida: "Será possível alguém do exterior entrar no meu computador e conhecer os meus e-mails? Estará a informação confidencial contida nos computadores da Presidência da República suficientemente protegida?" Ou seja, tornou claro que, se antes ainda podíamos circunscrever as suspeitas a alguns dos seus colaboradores, o Presidente assumiu ontem que, pelo menos desde a publicação do e-mail, também ele teve dúvidas sobre a segurança da sua própria correspondência. Dúvidas que o levaram a chamar especialistas que o informaram que existem vulnerabilidades no sistema de comunicações pela Internet de Belém. O que é grave e deve ser esclarecido depressa - pela Presidência e pelos serviços de segurança portugueses.
Fica assim tudo esclarecido? Longe disso. O Presidente disse que, "passada a disputa eleitoral, e porque considero que foram ultrapassados os limites do tolerável e da decência", decidiu "partilhar", "em público", "a interpretação que fiz sobre um assunto que inundou a comunicação social durante vários dias". Só que essa interpretação não chegou para esclarecer os portugueses.
Recorro por isso, de novo, ao que já escrevi, desta vez a 22 de Setembro: "Das duas, uma: ou a seguir a 27 de Setembro fundamenta as suas suspeitas, e age em conformidade, ou, se se limitar a iniciativas pífias, terá enfraquecido a sua autoridade como Chefe de Estado, porventura de forma irremediável". Infelizmente não fundamentou de forma consistente as suas suspeitas - nem clarificou bem que suspeitas tinha, ou tem - e, tendo sido forte no ataque aos que acusou de o tentarem condicionar e envolver na campanha, a única iniciativa tomada, sobre segurança informática, fica muito aquém do clima que, porque o desejou ou porque não o evitou, deixou criar.
Esta intervenção, a par com a não intervenção mais cedo, tem consequências. Umas o Presidente já as assumiu: o seu comportamento pode-lhe "causar custos pessoais". Outras deverão ser mais pesadas, pois sai ferido deste processo numa altura em que sabe que terá de continuar a lidar com um primeiro-ministro em que, manifestamente, não confia.
Quanto ao PS, pela voz de Pedro Silva Pereira, este decidiu assumir o conflito. O que significa que esta história não acaba aqui - muito longe disso. Não são boas notícias para o país, sobretudo no momento que vive.
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